Nunca achei minha vinda ao Rio obra do acaso. Tomo-a como um presente de Deus, como uma oportunidade para que eu aprenda em muitos sentidos. Certamente, ter a oportunidade de fazer aulas de canto com a Suely Mesquita tem sido um presente e tanto. Ontem foi minha segunda aula. Horas na estrada até chegar a Niterói. Por sorte, o trânsito estava bom.
Não sei se falo pela maioria, mas até onde conheço, cantores têm uma resistência muito grande a novas experiências. Há sempre um cuidado por não desafinar, por não errar aqui e ali... e isso acaba travando a oportunidade de novas descobertas. Faz pouco tempo que me permito fazer as coisas de um modo diferente na música. Faz pouco tempo que me permito desafinar sem culpa, buscar novos timbres, explorar sensações rítmicas diferentes... enfim, faz muito pouco tempo que me permito brincar enquanto canto. E tem sido bárbaro.
Ontem, durante a aula, tive de cantar uma música que adoro de um jeito, no mínimo, inusitado. Em vez da letra, inúmeros "lalalás" e, em vez de buscar o timbre ideal, uma voz com timbre metálico, debochado, sorriso forçado no rosto, bochechas alertas, uma coisa! Algo torturante, mas que me levou a uma nova descoberta de timbre, de emissão sonora, de voz que eu não conhecia e que estava lá, pronta pra sair, só precisando que eu desse espaço.
Sem dúvida, por vezes precisamos recuar um passo para avançar dois. E se na música isso significa ser ridículo ou cantar "feio" pra conhecer toda a potencialidade que temos, então... que se pague o mico, afinal, como diz a própria Suely... "mico é vida". Tô com ela e não abro.
Fico feliz que essas descobertas venham num momento tão oportuno, em que retomo a música após longos anos em um projeto delicioso, que está nascendo... mas sobre esse projeto musical eu falo noutra oportunidade.
Saudações mikaelísticas.
Tania Mikaela Garcia.
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