Já reparou como tudo na vida são ciclos? Isso não é novidade alguma, eu sei. Mas gosto de refletir a respeito.
Envolvemo-nos com algum projeto, sintonizamo-nos com algumas pessoas, dedicamo-nos a algum empreendimento... e, por algum tempo, parece que aquela realidade sempre se manterá, tamanha a importância que damos a ela.
O interessante é percebermos em que estágio desse ciclo está nossa relação com esse “outro”. Tudo o que fazemos deve-nos trazer um crescimento, e (deixe-me sonhar, por favor!) perfeito é quando esse crescimento se estende a outras pessoas com as quais convivemos. O que precisamos eternamente aprender é que esses processos não são eternos. Chega um momento em que uma dada situação não nos acrescenta mais. Há riscos que valem o investimento. Há aborrecimentos e ajustes que merecem um esforço para a adequação, afinal de contas, qual relação é fácil? Qual projeto não demanda perseverança? Limites, porém, devem ser respeitados.
Sempre me incomoda reconhecer e respeitar certos limites, até porque esses limites são meus e me fazem ter de abrir mão de algo que eu gostaria de manter comigo. Incomoda-me ainda mais sentir que minha decisão de concluir um ciclo muitas vezes não é tomada apenas por sentir que esse ciclo está chegando ao fim. O que de fato me incomoda é ter de fechar um ciclo para me manter fiel àquilo em que acredito, uma vez que me deparo com alguma atitude injusta, autoritária, hipócrita ou impostora.
Eu sou tolerante a muitas coisas que poucos tolerariam. Não me importo que façam pouco de mim. Não me importo que não aceitem minhas opiniões ou minhas filosofias. Não me importo que não me dêem a atenção que julgo merecer ou o reconhecimento que tantos têm fazendo tão menos que eu. Por ironia, talvez, não tolero duas coisas a que muitos andam desatentos hoje em dia: 1) não admito ser usada por pessoas que visam a interesses escusos*. 2) não admito ter de conviver num espaço em que os fins justificam os meios e os meios envolvam a falta de respeito com pessoas dignas da minha admiração.
Há mais de ano (creio!) entrei numa comunidade de Psicologia do Orkut. Mais de 35 mil membros, um número e tanto! Entrei acreditando poder aprender muito com um grupo de estudiosos que podem contribuir para a desmistificação de uma profissão que tanto admiro e que tanto sofre o preconceito da ignorância de quem não a conhece. Eis que o que presenciei foi uma realidade extremamente ditatorial de um líder que não aceitava, em hipótese alguma, qualquer tipo de manifestação que contrariasse seus pensamentos ou que pusesse sua imagem "inabalável" em risco. Se a garantia dessa imagem e desse status que acreditava ter por conta da moderação de uma comunidade no Orkut necessitasse passar por atitudes grosseiras, ridicularizadoras, coercitivas e totalmente arbitrárias, isso pouco importava. Ele decidia. Ele fazia. E ponto. Pesos e medidas distintas. Tratamentos simpáticos e respeitosos em público, e total falta de respeito em e-mails e mensagens pessoais. Fez-me lembrar da fábula do lobo em pele de cordeiro.
Peixe fora d’água, custou-me entender o que lá se passava, até que uns tantos membros excluídos da comunidade passaram a invadir meu espaço pessoal incessantemente para solicitar que eu fosse sua voz na comunidade. Eu não quis comprar aquela briga. Eu não tinha a ver com ela. Saí. Não foi difícil, aquela realidade não era minha. Aquela briga não era minha. Foi, na ocasião, algo esquisito, de que não gostei nada. É estranho quando temos um objetivo e somos levados a tomar atitudes não planejadas.
Irônico pensar que hoje opto pelo mesmo caminho, mas agora num espaço com que sempre me identifiquei. Triste é fazer isso pela mesma motivação tida na outra comunidade. A realidade é bem outra, menos de 3 mil membros. Dentre eles, porém, alguns poucos e expressivos nomes dignos do meu respeito. E é por eles que saio, justamente por não concordar em ver calada o desrespeito com que são veladamente (e, por vezes, nem tão veladamente assim) tratados.
Mas tudo na vida são ciclos. Este se fecha, um outro certamente se inicia. Talvez ao revisor caiba mesmo o isolamento. De qualquer forma, estou aqui, disposta a partilhar angústias e delícias da profissão, sempre. Por despedida, cabe um poema que muito admiro e que até então não tinha encontrado momento propício para ofertar a alguém. Eis, infelizmente, uma ocasião perfeita.
Dedico este poema a alguns colegas especiais da comunidade Revisores, do Orkut:
Versos Íntimos (Augusto dos Anjos)
Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O homem que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Tania Mikaela Garcia
* Há quem necessite de constantes estímulos para se auto-afirmar. Há quem não tenha caráter e se beneficie do trabalho alheio para se autopromover. Há quem busque o poder a todo o preço, seja lá o que isso signifique.