domingo, 2 de setembro de 2007

A Biblioteca Pública e a formação de leitores

Estive em julho no 16º Congresso de Leitura do Brasil (COLE), em Campinas – SP. Dos seminários organizados para que se discutissem as armadilhas e problemas de leitura no país, participei do seminário sobre bibliotecas públicas. Meu objetivo era o de expor uma análise dos índices estatísticos registrados pela Biblioteca Pública de Itajaí, a Biblioteca Pública Municipal e Escolar "Norberto Cândido Silveira Júnior" (http://biblioteca.itajai.sc.gov.br/), em seus sete anos de funcionamento e que, até onde pude acompanhar de perto, apresentavam-se numa escala crescente de resultados advindos de serviços e ações de incentivo à leitura. Qual não foi minha surpresa ao constatar que os números apontam algumas novidades preocupantes.

Embora a Biblioteca em questão esteja muito além da maioria de bibliotecas do país, oferecendo um acervo excelente, infra-estrutura de ponta e alto nível tecnológico, a média anual de leitura por usuário cadastrado caiu. De 2,6 livros lidos anualmente por usuário em 2004, a média em 2007 é de 1,8. Da mesma forma, a média de novos usuários cadastrados vem diminuindo. Que razões estariam por trás dessa mudança?

Num país em que o MEC é o maior comprador de livros do mundo e que os índices de leitura em pesquisas nacionais são catastróficos, mais do que oferecer uma infra-estrutura de qualidade, faz-se necessário promover efetivamente a formação de leitores, com iniciativas e políticas públicas que visem sanar o problema de leitura. Se uma escola sem biblioteca ou uma biblioteca sem livros são realidades lamentáveis, triste também é um livro à espera do leitor que não chega.

Dos níveis de alfabetismo relativos à leitura, tais como descodificar, compreender, interpretar, estabelecer relações, criticar e replicar, mais da metade dos leitores brasileiros só chega ao segundo nível, não conseguindo ir além de uma leitura localizacionista, sem extrapolar o texto, a fim de fazer inferências e posicionar-se criticamente frente ao que lê. Nesse sentido, a Biblioteca Pública pode extravasar sua função de extensão escolar, atuando socialmente no fomento à leitura e ao lazer cultural, assim como a escola necessita rever seu papel na formação de leitores. E para que isso ocorra, muitas armadilhas precisam ser quebradas.

A mera exposição ao universo da escrita não garante a alfabetização. Aprovação automática não assegura sucesso escolar. Mais tempo na escola não certifica mais aprendizagem. Escola com merenda, uniforme, material e serviços de extensão médico-social não cumpre necessariamente seu papel. O acesso de alunos especiais à sala de aula comum não traduz obrigatoriamente inclusão social. Livro e computador a alcance de todos não garante letramento algum. Enfim, mais do que dar o peixe, é preciso ensinar a pescar. E pescar bem requer técnicas específicas.

A propósito, já conhece o acervo da Biblioteca Pública de seu município? Visite-a. Não esqueça de levar seu filho, sobrinho ou irmão para ler um livro também!



Tania Mikaela Garcia


6 comentários:

Sue disse...

Letras de macarrão. Uma metáfora perfeita Mikaela. Gostei do seu blog, interessante e criativo como vocÊ. Parabéns pelos passos que tens dado. Way to go!
Abraços
Sue

Anônimo disse...

Pois, Mikaela.
O problema das bibliotecas é esse mesmo, a falta de tempo que a actual sociedade globalizada tem a perder com coisas que já catalogou de "menores".
Leitura entendem que não contribui para o sucesso individual imediato. O imediatismo e o individualismo, são joias da coroa da globalização. Só o consumo para demonstração de vitalidade e sucesso se impõe.
Aliás, como curiosidade, deixa-me que te fale de uma sociedade, das que o mundo reconhece como a mais evoluída, a Sueca.
Aí cultiva-se o low-profile, uma forma de estar em sociedade que promove a ponderação.
Na suécia, qualquer decisão que envolva custos sociais,demora em média 2 anos. Depois do projecto, tudo é estudado, discutido em reuniões sequenciais. E o que daí sai, é ponderadamente o mais adequado.
O que lá se constroi é da máxima qualidade. Se pensarmos nas principais marcas suecas, tiramos essa prova (Volvo, Saab/Scania,Nokia, Erikson, Bang & Olufsen, etc).
Os suecos lêem, são leitores afincados, as suas bibliotecas têm um movimento incessante, porque para discutir algo com rigor, é preciso o rigor do conhecimento.
Precisamos de uma alma sueca.
Platão ( o grego, não o chinês)

Anônimo disse...

Gostei muito do seu espaço, Mikaela. Engraçado como trabalhamos em áreas bem próximas. Vc canta, eu canto, vc conta histórias, eu idem. E agora vi o tema "bioética e ensino", que eu abordo através da contação de histórias. Quero saber mais dessa vertente do seu trabalho.
besito.

Anônimo disse...

O ensino da bioética é algo que se começa amovimentar, (falo de Portugal e Europa, claro)embora de forma ainda muito vacilante.
As temáticas são densas e sintetizar para uma linguagem compreensível a crianças e adolescentes requer que especialistas em ensino e pedagogia se dediquem à matéria.
A ética para as ciências da vida é essencial para o ser humano, mas tem sido neste último século que passou bastante descurada, em prol do desmesurado avanço da ciência seja a que preço fôr, pela imposição da economia.
Depois, tratamos o Planeta onde estamos plantados da forma que o temos tratado e com as graves consequências já preocupantemente visíveis.
Salvé as especialistas no ensino com as preocupações sobre essa temática. De certeza que produzirão através do ensino pessoas bem melhores, no que à cidadania diz respeito.
Um grande bem haja, para vós.
Platão ( o grego, não o chinês)

Anônimo disse...

Oi Mika, acabei de ler alguns textos do teu blog e gostei muito. Continue assim. Um abração.

Tania Mikaela Garcia Roberto disse...

Platão, obrigada pelos comentários.
Sandra, querida, a vertente da bioética começou quando participei de dois eventos da área. Estou iniciando leituras e, certamente, vamos trocar idéias a respeito. Um grande abraço.

Mikaela.